segunda-feira, 15 de novembro de 2010

mendigos

quando a dor é muda, lágrima que escorre
pela angústia de um sentir que já não sente
pela dúvida em ser cão ou crer-se gente
à prostrar-se toda vez que sente fome

quando a prontidão lhes faz sofrer da inevitável
humana dor, a lhes judiar do ventre
é que lembram de sua crença, incontestável
de que deus mora no alcance dos seus dentes

nos seus pés trazem as chagas do caminho
tortuoso dos que vivem mendigando
expiando pela dor e pelo espinho
todo o crime, toda a dor, todo o engano...

e quando enfim sentem a alma aliviada
das doenças, do abandono e do sereno
deixam o corpo de mendigo na calçada
pra morar na morna luz do firmamento